Se é verdade que sem lucro dificilmente haverá preocupações sociais e ambientais, o que parece cada vez mais inegável é que sem essas preocupações dificilmente haverá resultados financeiros positivos.
Nuno Moreira da Cruz, na qualidade de diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da CATÓLICA-LISBON, escreveu o artigo no Jornal Observador, no passado dia 24 de setembro de 2021.
Começo normalmente as minhas aulas de Mestrado e cursos de Formação Executiva sobre “Responsible Business” pedindo a alunos e executivos que associem palavras a este conceito. Palavras que sempre surgem andam invariavelmente à volta de sustentabilidade, ambiente, igualdade, ética, stakeholders, comunidades locais, responsabilidade social corporativa, e outras do género. Quando lhes peço em seguida que esqueçam a palavra responsible e associem palavras apenas a business tudo muda, na sala aparecem de imediato os suspeitos do costume: lucro, rentabilidade, acionistas, crescimento.
Este exercício espelha a sociedade e os mercados que temos e é isto que, felizmente, está em rápida transição. Acredito profundamente que dentro de uma década este exercício em classe deixará de fazer sentido – pura e simplesmente porque não haverá business se não for… um responsible business.
Cada vez há menos espaço no mercado para a “irresponsabilidade corporativa” e a pandemia veio reforçar ainda mais o sentimento globalmente aceite da emergência climática e das grosseiras e crescentes desigualdades sociais. Dois relatórios recentes ilustram bem o ponto a que chegámos:
Do ponto de vista ambiental, o relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), cujas conclusões foram bem sintetizadas por António Guterres, “o documento é um código vermelho para a humanidade”;
Do ponto de vista social, o relatório da Oxfam deste ano que faz as contas e sintetiza: o aumento da riqueza dos 10 maiores bilionários desde o inicio da crise é mais do que suficiente, não só para retirar da pobreza os quase 100 milhões que nela caíram durante a pandemia, mas também para pagar as vacinas dos quase oito biliões de seres humanos que habitam este Planeta.
Tudo isto conduz inevitavelmente a uma ainda maior pressão de cidadãos e consumidores sobre as empresas que atuam no mercado. Se há gerações que “não sabiam” e viviam com o sentimento interno “isto a nós não nos vai afetar”, as gerações que estarão a comandar os destinos do mundo proximamente, sim “sabem” e sim “a nós vai afetar”. As novas regras e foco generalizado nas métricas ESG (Environmental, Social and Governance), como forma de criar uma maior transparência e possibilidade de benchmark para os investidores, é uma onda mais na direção certa. Mas como eu escrevia num artigo recente sobre contabilidade de impacto, este é ainda o desafio que teremos de vencer para definitivamente aquele exercício feito em classe deixar de fazer sentido. Como dizia Ronald Cohen, para muitos o “pai do Impact Investing”, numa entrevista recente, “let’s measure impact like we measure profit” – será aí que aquela onda se transformará num bem-vindo tsunami. Resultados financeiros positivos, preocupações ambientais e preocupações sociais são as três patas indissociáveis que sustêm a longevidade de quem queira operar e triunfar nos mercados. Se é verdade que sem lucro dificilmente haverá preocupações sociais e ambientais, o que parece cada vez mais inegável é que sem essas mesmas preocupações dificilmente haverá resultados financeiros positivos. A bem das Pessoas e do Planeta.
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