Nuno Moreira da Cruz, na qualidade de diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica-Lisbon School of Business & Economics, escreveu o seguinte artigo na revista Human Resources , no dia 2 Nov, 2021:
A necessidade de as empresas operarem de uma forma social e ambientalmente mais responsável é já uma inegável realidade. Movidos pela força da exigência de cidadãos e clientes, aquelas que não o entenderem hoje, terão muita dificuldade em sobreviver amanhã. No que respeita ao ambiente, as provas científicas da sua degradação são mais do que evidentes e é uma área onde é mais fácil às empresas partirem rapidamente para a ação – é tema “institucionalizado”, já poucos duvidam da necessidade de agir. Por outras palavras, poucas empresas ousam esquecer estes desafios e agir em conformidade. O mesmo não é inteiramente verdade para as preocupações sociais, onde há ainda muito a fazer para que ganhem o mesmo estatuto que as suas “congéneres” ambientais. Diria que as preocupações sociais levam uma década de atraso face às ambientais – pelo menos na vertente mais estratégica de estar no mercado. Dito isto, creio que há várias tendências sociais que vão fazendo o seu caminho. Destacaria cinco, sob a forma de perguntas a que o futuro próximo dará resposta:
1. Antecipar a próxima questão social inaceitável?
Acredito que as empresas vão sentir a necessidade de incluir nos seus processos de decisão de investimento, a resposta à seguinte pergunta: “O que estamos a decidir hoje é aceitável do ponto de vista social. Mas será que o vai ser no futuro?”. Antecipar a próxima questão social inaceitável pode-se tornar numa fonte de vantagem competitiva. Ou, no mínimo, uma forma de mitigar o risco e a destruição de valor.
2. Aceitar a empregabilidade como responsabilidade social?
Empregos para a vida é característica de um passado distante, as empresas não têm obrigação de assumir qualquer responsabilidade nessa matéria. Mas há algo em que realmente acredito: é responsabilidade social das empresas garantir a empregabilidade dos seus colaboradores. As empresas socialmente responsáveis devem garantir que, sempre que um colaborador deva sair (seja qual for o motivo), eles devem sair como melhores profissionais e melhores seres humanos do que eram quando entraram. Formação e valores de empresa são a pedra basilar para o cumprimento dessa responsabilidade.
3. Globalização muda o papel das multinacionais?
Uma nova dimensão, muito interessante, do papel corporativo neste “novo mundo sustentável ” parece emergir. Em países onde os governos não fazem o seu “trabalho” (regular, controlar e sancionar questões-chave da sustentabilidade), a que se podem hoje “agarrar” os seus cidadãos? A resposta é cada vez mais óbvia: às grandes corporações que operam em todo o mundo, e que não podem mais ignorar esses desafios. Não há espaço no nosso mundo global para “dual standards” na forma como se conduzem as operações. Um exemplo: se no país da casa-mãe não há exploração fabril infantil, como pode uma multinacional “fechar os olhos” a isso em outro local onde opere?
4. “Soft is the new Hard”?
Claridade sobre valores, construção conjunta de uma visão, gerir com o coração, desenvolver “sense of purpose”: praticas que se tornarão, mais do que nunca, em habilidades chave de liderança sustentável. Com a maioria das atividades profissionais a serem substituídas por máquinas, essas são as práticas que farão a diferença, tendo sempre a consciência de que aqueles que lideramos são, antes de mais, seres humanos. Ninguém entra diariamente na empresa deixando à porta a pele do pai/mãe, filho/filha, esposa/marido, jogador de golfe, apaixonado por cães… É todo o ser humano que entra, e é esse ser humano que tem de ser gerido.
5. “Neutralidade” tem os dias contados?
A globalização e a tecnologia estão a canalizar todas as questões ambientais e sociais mais importantes para a arena pública global. Direitos humanos, trabalho infantil, escassez de água, qualidade do ar, pobreza, tudo questões críticas para as quais nós, cidadãos e consumidores, estamos cada vez mais sensíveis. Manter a neutralidade, evitando tomar posição nestes temas, será, para as empresas e CEO’s, tarefa cada vez mais complicada. Os consumidores tenderão a penalizar aquelas que não “agarrem” as grandes causas mundiais, por muito que o “conforto do silêncio” pareça ser o caminho mais prudente. Como sempre digo, se é verdade que sem sustentabilidade económica dificilmente haverá preocupações sociais e ambientais, o que também é cada vez mais verdade é que sem essas preocupações dificilmente haverá sustentabilidade económica.
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